01/02/2023

Você sabe o que são ácidos graxos? Muito se fala sobre como eles devem ser adicionados em nossa alimentação diária, mas pouco se comenta sobre qual a importância dos ácidos graxos para o organismo humano.

Afinal de contas, eles são um tipo de vitamina, como o ácido fólico (vitamina B9)? Neste caso, seriam a vitamina D e o ômega 3 da mesma família? Ou eles fazem parte de outra categoria de micronutrientes essenciais para a nossa alimentação?

Bem, nenhuma das opções acima. Na verdade, esses ácidos fazem parte de um macronutriente muito importante para o corpo: as gorduras.

Se ficou curioso, ao longo deste texto, você vai entender, de uma vez por todas, o que são ácidos graxos e por que deve estar atento em relação ao consumo desses nutrientes.

Para descobrir também qual a função dos ácidos graxos no organismo, continue com a gente e faça uma ótima leitura!

O que são ácidos graxos?

Os ácidos graxos são componentes lipídicos, ou seja, são substâncias que fazem parte da estrutura molecular das gorduras. Eles são considerados nutrientes essenciais para o ser humano e precisam ser consumidos, já que o corpo não consegue sintetizá-los1.

Existem variados tipos de ácidos graxos. Tudo depende da quantidade de cadeias de carbono e do número de ligações duplas entre esses átomos. Confira alguns deles1:

  • Ácidos Graxos Saturados (AGS), com apenas ligações simples entre carbonos;
  • Ácidos Graxos Monoinsaturados (AGMI), com a presença de uma única ligação dupla entre carbonos;
  • Ácidos Graxos Poli-Insaturados (AGPI), pela presença de duas ou mais ligações duplas entre carbonos;
  • Ácidos Graxos Poli-Insaturados de Cadeia Longa (AGPI-CL), que possuem 16 ou mais átomos de carbono;
  • Ácidos Graxos Poli-Insaturados de Cadeia Muito Longa (AGPI-CML), que apresentam 20 ou mais átomos de carbono.

Muita coisa, não é mesmo? Bem, em questão da nossa saúde, temos que nos preocupar, principalmente, com os ácidos graxos poli-insaturados. É aqui que se encontram nutrientes muito importantes para o bom funcionamento do corpo humano: o ômega 3 e o ômega 6.

Tipos de ácido graxo: conhecendo o ômega 3 e ômega 6

Conhecidos popularmente como ômega 3 e ômega 6, ambos são nutrientes essenciais para o funcionamento de diversos sistemas do corpo humano. Cientificamente, elas recebem o nome de ácido alfa-linolênico e ácido linoléico, respectivamente.

Agora que você já sabe o que são ácidos graxos, que tal conhecer um pouco mais sobre cada uma dessas substâncias?

Ômega 3: o ácido alfa-linolênico (ALA)

O ácido alfa-linolênico (ALA) tem um total de 18 átomos de carbono, tendo três deles uma ligação dupla. Assim, ele recebe a nomenclatura de “ácido 18:3”.

No corpo humano, este ácido pode ser sintetizado em duas substâncias muito importantes: ácidos eicosapentaenoicos (EPA) e docosahexaenoicos (DHA)2. Para isso, ele precisa passar por diversas sínteses, processos enzimáticos de dessaturação e elongação, que acontecem no fígado2.

Quais são as fontes de ômega 3?

As maiores fontes de ômega 3 são os peixes. Dentre eles, destacam-se o atum e o salmão. Aqui, ainda podemos citar os seus derivados, como os óleos de peixe. Outros alimentos de origem marinha, como caranguejo e ostras, também possuem o nutriente3.

Ainda no Reino Animal, podemos encontrar o ômega 3 nas carnes bovinas, suínas, de carneiros e de aves. Segundo pesquisas, todos os animais possuem ômega 3, já que temos esse nutriente em nossas células3.

Ômega 6: o ácido linoléico (AL)

Por sua vez, o ácido linoléico possui 18 átomos de carbono e apenas duas ligações duplas. Sendo assim, ele também recebe o nome de ácido 18:2.

Quando consumido de maneira moderada, esse nutriente é muito benéfico para o corpo humano. Entretanto, não é isso o que acontece nos dias de hoje3.

Desde o começo do século XX, no auge da revolução industrial, pesquisadores notaram uma mudança no comportamento de alimentação das famílias. Desse jeito, o consumo de ômega 6 e ômega 3 deixou de ser de 1:1 e começou a ser de 15-20:13.

Ficou confuso? Vamos explicar: isso significa que, para cada unidade de ômega 3 que nós consumimos, estamos ingerindo de 15 a 20 unidades de ômega 6. Isso pode ser muito prejudicial para o corpo, causando problemas inflamatórios e outros3.

Quais são as fontes de ômega 6?

As principais fontes de ômega 6 são os óleos vegetais. Entretanto, como você viu, o consumo deste nutriente deve ser moderado. Para diminuir o índice da substância no corpo, especialistas recomendam um aumento moderado na ingestão de ômega 33.

Isso acontece porque as duas substâncias são sintetizadas por uma mesma enzima, conhecida como ∆6 dessaturase (ou delta-6-dessaturase). Porém, a enzima tem o ômega 3 como seu preferido, priorizando a síntese desse nutriente em relação ao ômega 64.

Desse jeito, o corpo não consegue transformar o ácido linoléico em ácido araquidônico (ARA), que, em excesso, produz substâncias nocivas para o organismo4

Qual a função dos ácidos graxos?

Basicamente, conhecemos os ácidos graxos pelas suas funções anti-inflamatórias e inflamatórias - no caso do excesso de ômega 6. Mas, podemos nos prolongar um pouco mais falando sobre qual a importância dos ácidos graxos para o organismo humano.

Dentre suas funções, estão:

Ajuda o sistema imunológico a funcionar melhor

As funções do ômega 3 e do ômega 6 são distintas em relação ao sistema imune. Por um lado, o primeiro produz um efeito anti-inflamatório no corpo5.

Enquanto isso, as substâncias produzidas pela síntese do ômega 6 causam um efeito inflamatório em nosso organismo. Elas são responsáveis, por exemplo, pela febre. Além disso, possuem um efeito imunossupressor, por isso devem ser consumidas com muita cautela5.

Atua no combate às doenças cardiovasculares

Estudos mostraram que consumir peixes, pelo menos, uma vez na semana diminui até 30% nas chances de desenvolvimento de um Acidente Vascular Cerebral (AVC)3.

Pesquisas também comprovaram que o ômega 3 melhora as chances de você sobreviver em casos de doença cardíaca coronariana (DC), além de melhorar os resultados das insuficiências cardíacas (IC)3.

Contribui paro desenvolvimento do Sistema Nervoso Central

Muitas pesquisas mostraram que os ácidos graxos são essenciais para o desenvolvimento saudável do cérebro humano. O docosahexaenoico (DHA), produto o ômega 3, é o mais abundante no sistema, sendo também um dos principais componentes da retina3.

Além disso, alguns estudos mostram que os ácidos graxos são essenciais para a formação do cérebro durante a gestação. Por isso, as futuras mamães devem ficar de olho no consumo destes nutrientes, principalmente nos últimos três meses de gravidez3.

Agora que você já sabe o que são ácidos graxos e os seus benefícios para o corpo humano, não deixe de prestar atenção no consumo dos alimentos que são fontes destes nutrientes.

Perini, J. Â. D. L., Stevanato, F. B., Sargi, S. C., Visentainer, J. E. L., Dalalio, M. M. D. O., Matshushita, M., ... & Visentainer, J. V. (2010). Ácidos graxos poli-insaturados n-3 e n-6: metabolismo em mamíferos e resposta imune. Revista de Nutrição, 23, 1075-1086. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rn/a/CCrfCYkSNX6Zqp97GCQ3bBD/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: dezembro de 2022.


Moreira, N. X., Curi, R., & Mancini Filho, J. (2002). Ácidos graxos: uma revisão. Nutrire Rev. Soc. Bras. Aliment. Nutr, 105-123. Disponível em: http://sban.cloudpainel.com.br/files/revistas_publicacoes/47.pdf. Acesso em: dezembro de 2022.


Kus-Yamashita, Mahyara Markievicz Mancio. Ácidos graxos. Life Sciences Institute do Brasil, 2017. -- (Série de publicações ILSI Brasil : funções plenamente reconhecidas de nutrientes ; v. 17). Disponível em: https://ilsibrasil.org/wp-content/uploads/sites/9/2017/07/Fasc%C3%ADculo-%C3%81CIDOS-GRAXOS.pdf. Acesso em: dezembro de 2022.


Juliana Severo Rosa, José Ribamar Saraiva Junior, André Gonzales Real, Laís Quevedo Siqueira, Cláudia Severo Rosa. Influência dos ácidos graxos ômega-3 e vitamina D na depressão: uma breve revisão. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/cmbio/article/view/17896/15167. Acesso em: dezembro de 2022.


Perini, J. Â. D. L., Stevanato, F. B., Sargi, S. C., Visentainer, J. E. L., Dalalio, M. M. D. O., Matshushita, M., ... & Visentainer, J. V. (2010). Ácidos graxos poli-insaturados n-3 e n-6: metabolismo em mamíferos e resposta imune. Revista de Nutrição, 23, 1075-1086. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rn/a/CCrfCYkSNX6Zqp97GCQ3bBD/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: dezembro de 2022.